quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Outubro em mim

Pensei, no dia um de Outubro, preparar-vos uma fantástica caixinha de surpresas. Um post recheado de coisas boas: efemérides, músicas que eu gosto, poemas outonais, imagens nostálgicas... fiquei-me pelo pensamento.

Os dias passam-me e eu passo-lhes. Embora em estado aparentemente vegetal, o vulcão fervilha mais que nunca! As ondas batem com a força de mil homens. Pareço que as oiço a ir contra as rochas da ilha do Baleal, num fim de tarde invernoso. Que saudades do meu cantinho... Fecho os olhos e vôo até ao magnífico pôr do sol berlenguesco. Aquela luz irreal sobre a madeira do barco pirático... sorrío. O meu sonho persegue-me!

O calor da tostadeira, o barulho dos copos a tilintar e da máquina do café a triturar, os nomes antigos...Celestina, Justino, Ilda, Osvaldo. A estrada a fugir-me das mãos, os músculos a gritar por mais, os moralismos - os verdadeiros e os falsos -, os colos, as (in)compreensões, os DJ's de pistas vazias em lugares sem sentido, os incongruentes e as incongruências. O cheiro dos diospiros. As palavras, essas, "voávam por entre os convivas, passando por mim, e, muito provavelmente, na sua grande maioría, acabáram por perecer numa qualquer esquina da Rua Direita, de tão pouca importância detêrem!". O preto - a minha fuga!

Coitada da pobre vietnamita com o cabaz de arroz à cabeça e o filho às costas!

Sim. Abstracta. Mas também uma impossibilidade tornada possivel, pelo menos à vista (por isso vos dou M. C. Escher)!

Entre o pinto nascido e o pombo morto, tanto por voar. Mas a gaiola persegue-me... Dizem-me para apreciar as suas belas grades. Sorrío de novo. E as flores de plástico que as adornam. Quase parecem reais, é verdade.

Mas com quem julgam que estão a brincar? Será que tenho cara de fantoche?

Fantoche de mim mesma...






A Felicidade


"Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor"


Composição: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

13 comentários:

Albertina disse...

Minha filha
Há um belo poema de Guerra Junqueiro "O Melro", que conta a história de uma mãe melra que, ao ver os seus filhos numa gaiola, aprisionados por um padre que os iria comer de seguida, apanhou ervas venenosas e deu-as as filhos, comendo ela a seguir...
"Meus filhos, a existência é boa
Só quando é livre. A liberdade é a lei,
Prende-se a asa mas a alma voa
Ó filhos, voemos pelo azul! Comei!"

Isto é um coisa que nunca te farei! (mais depressa investiria contra o padre furando-lhe os olhos para defender as minhas crias!)

Quero-te livre - porque te libertáste. Quero-me viva - para te viver.

As Berlengas estão lá, no mesmo sítio... Avalon existe.

Está quase, Ana, está quase!

Beijos doces como tu sabes ser...

milhafre disse...

o que tu esqueces é que este gordinho tem dois braços grandes capazes de te dar um abraço apertado que transforma o mais frio inverno em pleno verão.
tem calma amiga
tu es forte e doce
vais ver que vais dar a volta por cima, que das a volta por cima.

conta comigo para o que der e vier.
sabes os meus números, sabes onde encontrar-me .
quero ajudar-te, preciso que siabas que estou contigo.

beijo

To e Li disse...

"Entre o pinto nascido e o pombo
morto, tanto por voar !"
Voa Aninha!!!
As tuas asas vão longe! Esquece a a gaiola , abre as grades e voa...

TODOS NÓS UM DIA FOMOS FANTOCHES!!!

Cabe a cada um de nós construir a nossa história e eu sei que a tua vai ter um final feliz !
Beijinhos
Linda

Elvira Carvalho disse...

Ontem vim aqui há tarde contar-lhe uma história que me contaram. Penso que tenha lido. Hoje venho aqui e vejo um post do dia 1 de Outubro. Fiquei baralhada.
Hoje deixo-lhe aqui um poema de Fátima Irene Pinto.

Espero que goste.




Quem nesta vida já não se sentiu assim
Sem rumo, perdido, rendido
Às contingências do momento?
Quem já não experimentou estas fases
Onde tudo é desalento
E embora abrigado, cercado de gente,
Continuou absolutamente só
Qual se estivera ao relento?

Quem já não se perdeu do passado?
Quem já não ficou sem vislumbrar futuro,
Sem sentir um medo atávico
E ver-se assim totalmente inseguro?

Quem já não ficou sem saber o que fazer com o agora,
Levado pela correnteza da vida incerta,
No malogrado ajuste do ponteiro das horas?

Quem já não se perdeu de Deus, após tê-lo encontrado?
Quem já não se perdeu do filho, após tê-lo criado?
Quem já não secou por dentro, após ter muito amado?
Quem já não se perdeu no caminho que parecia adequado?

Quem já não experimentou um medo visceral da morte?
Quem já não tremeu diante de uma súbita virada da sorte?
Quem já não teve todos os planos e sonhos desfeitos?
Quem já não se viu lesado nos seus mais legítimos direitos?

Quem já não se viu órfão de toda a esperança?
Quem já não se viu, de repente, sem guiança
Sem rumo, sem bússola, sem farol, sem diretriz,
Quem já não se sentiu um dia, desesperadamente infeliz?

Quem já não se sentou à beira do caminho, extenuado
Vendo a vida passar, como filme apenas, projetado
Na ínfima condição de mero expectador isolado
E nada mais reivindicou neste momento,
Senão a suprema bênção de poder ficar calado?

E poder então soltar o passado
Não temer mais o futuro
Abdicar de vez do agora
Voltar ao estado original
Após ter fechado um doloroso ciclo
Fazer-se pronto para mais uma volta
Da infinita espiral !

Um abraço e não esqueça: Quem sabe faz a hora, e a hora é de andar para a frente.
Um abraço e uma boa semana

Lisa disse...

Ana,

Comecei a trabalhar na 2ª feira. Agora, vir á Net, é só à noite e não é todos os dias, mas sempre que posso venho ver-te/ler-te.

A vida, nem sempre é como desejamos. Temos de ser nós, com a nossa determinação e, porque não, teimosia, dar a volta por cima e pintar de azul, o mais negro dos cenários.

Beijinhos doces como tu.

Lisa

Teresa disse...

Olá Ana

não, não és o fantoche de ti mesma. Eventualmente permitiste-te tornar no fantoche de outros. O que é natural. Nós, seres humanos, temos essa coisa: a de nos deixarmos tomar sempre pelos outros, pelas coisas, pelos momentos, pelo passado. sei lá...

E quando queremos voltar a nós, já não nos libertam com a alegria com que nos receberam. Fecham-nos neles e cá andamos a ver se conseguimos o reencontro.

Beijo imenso. não sei mais que dizer-te. Tanto teria, até. Mas não vejo que utilidade teriam as minhas palavras em ti.
Afinal, também eu me tenho como o fantoche dos outros e das minhas coisas...

Vamo-nos vendo por aqui, querida Ana...

Fica muito bem.

Abraço e beijo imenso *

milhafre disse...

luta guerreira.
lutaremos todos.
venceremos o amanhã.
faremos as flores surgir dos campos.
sonharemos como aves.
estou contigo amiga
força

Branca disse...

Olá Ana,

Espero que me leias.
Percebo que a tua gaiola te sofoque por vezes, mas deves pensar que ela é neste momento o caminho para a tua liberdade, embora pareça contraditório.Todos nós temos as nossas gaiolas. Eu própria parei dois dias esta semana e fugi um pouco das minhas grades para preservar a minha saúde, para fazer um luto que não me estava a ser permitido fazer por uma sociedade que me aprisiona em horários rígidos e não nos dá ás vezes espaço para pensarmos em nós, para nos encontrarmos. Temos que aprender a criar o equilíbrio...é difícil, mas vale a pena.
A felicidade não é assim tão fugaz como nesta canção de Vinicius e Jobim, a luta por ela às vezes é dura, mas ela é feita de muitos momentos, é um somatório ao longo da vida e tu tens tantos momentos ainda para vivê-la, és tão jovem! Pensa na tua felicidade e na dos que te rodeiam e volta à luz e à vida que te espera.
Mil beijinhos.
Branca

Walter disse...

Um post mais ácido que doce, mas outubro tb é tempo d castanhas assadas e o sonho tem sempre que caminhar ao teu lado
walter

milhafre disse...

amiga
estou e estarei sempre contigo.
lua pela lua
sonho pelo sonho
vento pelo vento.
deixa que o calor lá fora te lembre a primavera.
que o sol dos amigos te inunde de luz o lar e os sorrisos.
deixa que cores belas... o azul do mar, o verde da floresta, o vermelho dos morangos deem nova luz a este espaço.
escreve aqui sonhos novos, coisas novas, almas novas.
mostra toda a luz que se esconde em ti porque deixaste de crer nela.
há tanto de novo para viver.
tanta ternura para partilhar.
estamos de braços abertos a receber-te...
basta quereres...
vais ver que afinal não há grilhetas nem barreiras,
só sonho, só amizade, só calor humano.

gosto muito de ti

beijo

pedro

Branca disse...

Subscrevo inteiramente o que diz o teu amigo Pedro. E já vi que tens muitos amigos incondicionais.
Com amigos assim a vida pode ser um paraíso na terra, é só pintá-la com as cores da natureza e com esses afectos.Tu mereces e eles também, que te amam e se preocupam contigo.
Beijinhos.
Branca

milhafre disse...

ja punhas aqui algo novo
merecias.
merecemos todos

Branca disse...

Oi!
Como diria um amigo meu "Agarra os sonhos".
Vim visitar-te, mas só quero que te preocupes em seres feliz. Se te apetecer mandar este pessoal dar uma volta, também está bem, desde que encontres o caminho. Nós não sabemos nada, somos só um ombro amigo, se o quiseres, porque as respostas estão todas dentro de ti.
Fica bem.
Beijinhos.
Branca