domingo, 26 de outubro de 2008

Poemas da minha vida



Porque a minha vida é um poema;
porque um poema é capaz de descompasar o meu coração;
porque o meu coração bate con una dolce violenccia ao som da minha inquieta alma;
porque a minha alma é feita de vida!

Por tudo isto, e porque me faz sentido, partilho convosco alguns poemas da minha vida: uns do meu passado, outros mais recentes. Todos eles me retratam de algum modo, ou simplesmente me agradam (e por me agradarem já me retratam!).

O poema que em mim se constrói permanecerá inacabado, na fecunda expectativa de ir acrescentando mais versos. As estrofes, essas, vão-se derramando num lento modus operandi, sem regras nem métrica certa, tal como é o mundo em que vivo: ora montanha, ora planície, ora oceano, ora auto-estrada, ora noite escura, ora praia-mar! E é neste hiato, entre a plenitude e o vazio, que me renasço diariamente, transformando o meu caminho numa Ode Triunfal!


Ecce Homo - José Carlos Ary dos Santos

Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.

Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.

Pois Deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,

Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.


Adeus – Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhoseram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nomeno silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Além-tédio – Mário de Sá-Carneiro

Nada me expira já, nada me vive ---
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...


Estação – Mário Cesariny

Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho

Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça


O amor em visita – Herberto Helder

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.

Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.

E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.

- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.

Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.

Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.


Esperança – Almada Negreiros

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.

Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?
Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.


Durmo ou não? – Fernando Pessoa

Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.

Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.

Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?


O que há em mim é sobretudo cansaço – Álvaro de Campos

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...


Prospecção – Miguel Torga

Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.


Retrato de Fugitivo – Al Berto

Ele caminha pela solidão nocturna dos quartos de hotel
e de fotografia em fotografia chega exausto
ao minucioso poema a preto e branco
mas já não o surpreende a violenta visão do mundo
este lento destroço que um liquido sussurro de prata
revela a partir de iluminada fracção de segundo
e bebe
e ama
e foge de si mesmo
com a leica pronta a ferir como uma bala ecoando
no fundo da memória um néon uma pedra
uma arquitectura de luz e sombra ou um deserto
onde se debruça para retocar os dias com um
lápis
na certeza que sobrevirá a estes perfeitos acidentes
a estes restos de corpos a pouco e pouco turvos
pelo tempo pelo sono ou pela melancolia
mas regressa sempre à transumância das cidades
quando a alba do flash prende o furtivo gesto
sobre o papel fotográfico morre o misterioso fugitivo
depois
vem o medo
que se desprende do olhar imobilizado
e do rosto fotografado
nasce uma vida de infinito caos


Morre Lentamente - Pablo Neruda

Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
Quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

12 comentários:

milhafre disse...

vive o sonho em ti..
as poesias e sobretudo a vida podem ser escritas com letras alegres e palavras risonhas...
explora a tua essencia que te torna musa, sente-te como a pessoa bela, simpatica, afavel, meiga, sensivel e inteligente que sei seres... gosta-te, não porque nos gostamos de ti mas porque es de facto especial e unica...
sente-te musa...
sonha ser musa, circe, caliope, tágide, ninfa, guerreira... o que quiseres... o mundo está ao alcanse dos teus sonhos e do teu sorriso.
adoro-te...

beijo grande

qualquer dia escrevemos um poema a dois...
preciso de soltar-me ...
precisamos soltar-nos

beijo

e bem vinda ao mundo do blog

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=b28A4YI4gbI


"tio S"

(do not feed ) the monster disse...

entre outras coisas partilho contigo alguns dos teus(nossos) poemas preferidos.
como tenho dito tantas vezes nos ultimos meses há coisas que n se explicam... sentem...
e há poemas que são como a vida...só se sentem...não se explicam...
a minha mão estará sempre a aqui...

Branca disse...

Olá querida,

eu bem dizia que este post tinha que ser feito com prazer e que prazer sinto que tiveste ao fazê-lo!
Só cheguei agora aqui depois de uma conversa com uma nativa de Peixes que tenho cá por casa, parece-me que hoje é dia de as mães fazerem serão com as filhas.
Quando entrei fui defolhando o teu post e para além de o teu texto já ser uma bela prosa poética, comecei a comover-me com o primeiro poeta que escolheste e fui descendo e até parecia que tinham sido escolhidos por mim, Ary e Eugénio de Andrade são sem dúvida dos meus preferidos, aquele poema do Eugénio li-o tantas vezes que quase o sei de cor e o do Pablo Neruda também. Os outros não os sei tão bem mas são igualmente do melhor que há.
A esta hora já não os vou ler todos, li só Ary e Eugénio, falta-me a concentração para continuar em leitura tão profunda e bela, prefiro voltar com a cabeça fresquinha.
Fico feliz por te ver por aqui com imagens tão belas e tão cheias de vida como as destas poesias.
Volto para as ler a todas,umas pela segunda vez, outras pela primeira e guardar numa coletânea escolhida por ti. Quando trouxeres mais vão todas para a mesma pastinha.
Dorme bem.
Beijinhos.
Branca

Branca disse...

Volto para saudar o teu amigo Pedro, que belo comentário poético te deixou e realmente bem podiam escrever poesia a dois.
Perdi um amigo há bem pouco tempo que escrevia poesia a dois e a três com algumas poetisas brasileiras. vou deixar-te um link com um exemplo desses que tem uma apresentação lindíssima e uma música igualmente bela, espero que gostes.

http://www.soninhavalle.adm.br/setiver/setiver.html

Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Um dia que passou a correr, parei por um minuto, e pararam-me estas palavras nas mãos, vindas não sei de onde e nem sei de quem. Partilho-as contigo.

"Abro a porta do teatro,
acendo as luzes do camarim,
sento-me em frente ao espelho
e a imagem reflectida de quem é?
É o ser que me habita ou um dos múltiplos
a quem dou voz, que eu permito que me habitem,
e que vivam em mim por umas horas?
Ponho a base, uso o lápis, retoco o baton,
a maquilhagem está pronta!
Sorrio ao terminar, já pus a máscara!
Sou o palhaço que tem que divertir a plateia
enquanto sinto no meu peito um deserto sem risos...
sou o tenente, a amante, a rainha, a ditadora,
sou a mendiga, a órfã, a diva,
a bailarina, a louca, a rica, a corista,
a prostituta, a mártir, a vilã,
a deusa, a judia, o palhaço, a triste, a fada,
o anjo, a submissa, a poeta, o diabo, a estrela...
simplesmente a actriz...
Por trás da cortina fechada
ensaio as deixas, os passos de dança,
a letra da música, a melodia,
decoro e repito tudo de novo,
até à exaustão, na esperança vã de alcançar a perfeição!
Experimento todos os erros, os imprevistos,
as falhas, as quedas, as maleitas, as dores, os esquecimentos,
os sorrisos, as lágrimas possíveis...
Doi-me o corpo, a alma, a voz
e no entanto,
os meus olhos enchem-se de emoção
ao sentir o cheiro do palco,
a trepidação das tábuas com o som da minha voz,
com mais este salto,
ao ver nas cadeiras vazias
o sorriso encantado de fantasia da plateia,
de ouvir o som dos aplausos!
Vamos repetir, outra vez, novamente, só mais uma vez,
esta cena, a outra, repetimos...
saltaste a fala, não deste a deixa,
enganei-me, começamos de novo,
não chegaste ao tom, esqueci-me da letra, falhaste...
estou cansada!
"Eu sei que és capaz!"
segreda-me em surdina
o ser que vive em mim e que sou só eu!
O responsável pelos sonhos e que nunca recorda as dificuldades.
Mas a nota é demasiado aguda,
os joelhos doem-me mais do que consigo suportar
para fazer aquele salto, só mais aquele...
coloco a máscara e tento mais uma vez, e outra...
Só o faço mais uma vez,
porque amo tão intensamente o que faço,
porque amo da mesma forma que vivo,
porque respiro por mim
e por todos os que encarno.
Sou um pouco de todos e a todos dou um pouco deste ser
com uma história por criar,
desta personagem sem maquilhagem,
sem guião,
parte de uma partitura por preencher,
estrofe da melodia de um soneto por inventar,
de uma nota que tenho que cantar
e que a minha voz não alcança,
mas a que a voz da corista que criei, irá chegar!
O que me move é a transcendência de criar,
de fazer nascer,
de ser desventrada em cada dia,
em cada espectáculo, em cada abrir de pano,
por este ser que não sou eu e que podia ser,
mas que usa o meu corpo,
a minha voz, as minhas emoções,
a minha entrega, a minha paixão, a minha dedicação,
que me usa...
e que me faz ver o mundo pelos seus olhos...
Finalmente, em êxtase,
as palmas, as flores, os agradecimentos,
o cair do pano, o apagar das luzes,
o som das pessoas a sair e o abraço que fica na sala esvaziada de gente,
o despir da roupa e da personagem
que penduro num cabide do camarim
e a quem digo - até amanhã.
Os encontros à saída, os sorrisos,
os abraços e finalmente,
em casa, a sensação de pleno abandono ao meu silêncio
onde voa liberto o contentamento de ter sido capaz,
e a certeza de querer sofrer mais
por desejar chegar mais além,
àquela outra cena ainda não experimentada, ainda não pensada,
ainda por escrever..."

milhafre disse...

passei para te agradecer pela amizade...
apetece-me faze-lo e estou realmente grato por todas as maravilhas que tem sido conhecer-te.
não tenho pressa para o poema... as coisas especiais acontecem quando tem de acontecer..
beijo

Elvira Carvalho disse...

Passei, e fiquei fasciada com este post. Como só posso estar aqui por bocadinhos, embora o pc esteja ligado o dia todo, apenas li a sua introdução, e o nome dos poetas escolhidos, alguns deles também dos meus preferidos. Hei-de voltar até os ler todos. E depois comento de novo. Sinto-me feliz e orgulhosa da sua amizade(ainda que virtual)
Um enorme obrigada

Anónimo disse...

Obrigado por partilhares os teus poemas querida ;).
Um dia partilho os meus contigo, prometo!
Love u**

To e Li disse...

Olá Ana!!!
Fico feliz por ver que estás no bom caminho!

Beijinhos

Linda

Elvira Carvalho disse...

Acabei de ler os poemas. Uns conhecia outros não. Uma boa colectânea, embora eu prefira os poemas que cantam a vida.
Desejo-lhe um excente fim de semana.
Um abraço

Mário Sérgio Felizardo disse...

como já te disse noutro sítio, faço minhas as palavras da Elvira Carvalho

Beijo

"tio S"