quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Tempo que voas...

O meu amigo NN enganou-se no prognóstico. O resultado, ao fim de contas, não é Ana:1 - Demónios:0, mas sim: Ana:3 - Demónios:0! A vitória é indiscutível! No entanto, as noites não deixam de ser difíceis (Umas menos que outras, confesso!). Mas agora já não são os demónios que mas ocupam, mas antes uma avalanche de coisas que quero fazer/dizer e para as quais pareço não ter tempo. Oh, tempo... porque me escorregas assim por entre as mãos? Quase te invejo... Oiço a Gal Costa cantar-te "O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece".
Queria contar-vos tanto... sobre o Amor (o meu) que me morreu; sobre "a outra", a desalmada, que agora está num espécie de coma (contratei uma equipa de limpeza e decoração. Foram lá à torre e pintaram aquilo tudo de branquinho! Puseram quadros do Klimt e do Van Gogh pelas paredes e mais uma data de mariquices... ficou lindo! Cheira bem, a casa de gente. Então, cada vez que a miúda acorda, fica tão apatetada que cai em sono profundo novamente. Um dia destes tenho de lá ir visitá-la para conversarmos. Não vou desistir dela. Que raio de assistente social seria eu se o fizesse?); queria também falar-vos de algumas receitas maravilhosas que me têm transtornado a gula - não imaginam o prazer que tenho a cozinhar! Cozinho e canto! Os meus vizinhos não devem gostar muito da conversa, qua a banda sonora há anos que é a mesma, mas, sinceramente, estou-me pouco borrifando! O gozo que me dá... Queria também mostrar-vos a minha infância perfeita (mas tão perfeita!), a minha saída abrupta da mesma, a fotografia falada do meu primeiro beijo...

Mas não tenho como, porque life goes on e agora é tempo de remediar. Remediar não me chateia, porque sei que não posso passar incólume pelas minhas destemperanças. Chateia-me é o tempo que perdi com merdinhas sem jeito nenhum, e o tempo que vou ter de despender para as consertar! Enquanto isso, a gravidade parece ganhar nova força: as minhas maminhas já não são as mesmas de antes, as peles começam a ceder... mas pronto! Isso não interessa nada! Eu tenho é tantos planos e não vou ter tempo para os concretizar, e a principal responsável sou eu! Não é verdade que dizem que tudo tem um preço? Devíamos poder comprar tempo...
E enquanto penso nisto tudo, perco tempo, porque, no fundo, não resolvo nada e deveria era estar a dormir, para no dia seguinte acordar "fresca que nem uma alface"!
Como já devem ter reparado, o meu astral está um bocadinho muito mais para cima do que aquilo que estava no início do mês. Propus-me à minha missão, e cá estou eu, cheia de fôlego (literalmente! Se soubessem o significado que tem para mim respirar como deve ser!). No entanto, não consigo prever o estado da coisa para a semana vindoura. Vou à minha primeira sessão com a psicóloga, terei a minha primeira aula de condução (saiam das estradas), talvez experimente uma aula de yoga. Talvez me encontrem em estado de sítio. Ou talvez não! É que amanhã vou jantar ao italiano, depois vou ver a Maria João e o Mário Laginha, e no Sábado o trio “Fly”.

É por causa deste carrossel, que normalmente são as minhas emoções, que às vezes gostava de ser um pouco mais como o Ricardo Reis. A sua filosofia é a de procurar o caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos, aceitando o Fado (destino) como ordem natural das coisas. Intelectualiza as emoções para viver de forma serena e equilibrada. Com certeza, com a sua calma, não há de sentir as coisas pelo seu todo: não usufrui do muito bom, mas também não sofre o muito mau, porque está sempre ali, apenas “a ver o rio passar”, sem realmente fazer parte de todo o seu movimento. Diz ele à Lídia:

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Ai, Maria, que mentirosa és! Não suportava viver assim. Teria, provavelmente, uma vida mais equilibrada. E a serenidade faz-me falta, é verdade. Já dizia a minha avó (a minha avó é muito sábia, e diz muitas coisas) que no meio é que está a virtude. Mas venham os beijos e abraços e carícias. E deixem-me mergulhar nesse rio para sentir as suas marés, sejam elas de calmaria ou tempestuosas. Deixem-me sentir tudo, porque é assim que sei viver!

Bom! E agora, como não tenho tempo para continuar na calhandrice (que eu não tenho a vossa vida!), vou-me, como o coelho da Alice: sempre a correr, cheio de pressa, a olhar para o relógio, como se estivesse sempre atrasado para alguma coisa. O que é mau, muito mau (mas isso é esta história noutra história, que agora não tenho tempo!)!

Mas antes, deixo-vos com Khalil Gibran e O Casamento. Tinha eu 18 anos quando me apaixonei por um marinheiro (uma outra história. E que bonita que é!). E foi ele que me apresentou o que se segue. Era Verão, era praia e estávamos apaixonados…

ALMITRA falou de novo e disse:
- Mestre, que pensais do Casamento?

Ele respondeu, dizendo:

- Nascestes juntos,
juntos ficareis para sempre.

Ficareis juntos
quando as asas brancas da morte
dispersarem os vossos dias.

Sim. Ficareis juntos
até na silenciosa memória de Deus.

Mas que haja espaço na vossa comunhão;
e que os ventos do céu dancem no meio de vós.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.
Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro. . .

in "O Profeta"
de Khalil Gibran

16 comentários:

Anónimo disse...

mantém este "ritmo" esta "passada" para te pudermos acompanhar, é que assim, suspeito que vais longe.


xicoração

"tio" S

Elvira Carvalho disse...

Ora que bom a Princesa está recuperando o seu verdadeiro lugar, no reino da Vida. E o lugar da Princesa, é esse aí, menina bonita, inteligente, educada, prendada. Que escreve maravilhosamente bem, que gosta de música, cinema, se encanta com os amigos, canta, e vejam lá até gosta de cozinhar.
Tiradas filosóficas? humm! Falta de tempo? Normal. Toda a gente tem.
Vive-se a vida numa correria. Quando eu trabalhava, e chegava a casa cansada e tanta coisa para fazer, estava sempre a queixar-me que me faltava tempo, para o que me era mais grato. Ler, ouvir um cd, cuidar do meu aspecto, etc. Um dia acordei mais cedo uma hora, e como era muito cedo para iniciar a labuta normal, sentei-me a ler. E desde aí passei a levantar-me todos os dias mais cedo uma hora, e a dedicar essa hora a mim. E passei a ser muito mais feliz.
Ninguém passa incólume por nada. Fica sempre uma cicatriz. De nós depende o que fazemos com ela.
No momento em que nascemos, e nos cortam o cordão umbilical, sofremos muito. Deixamos a segurança do útero materno e saímos para a luta que é toda a nossa vida. O nosso umbigo, não é mais do que a cicatriz que fica desse momento de sofrimento. E diga-me uma coisa? Já ouviu alguém lamentar-se por ter um umbigo? Não. Pelo contrário algumas pessoas, até fazem dele um local de adorno que enfeitam com seus piercings. Sei que me entendeu.
O envelhecimento é a lei natural da vida, maminhas mais ou menos descaídas, também. Nada que hoje em dia um bom cirurgião plástico não remedeie. Fazem um trabalho tão perfeito que às vezes as pessoas ainda ficam mais bonitas que dantes. O importante é que não nos descaia, a alma, o espírito, o nosso eu interior. Porque aí, mão há cirurgião que valha. Nem psicólogos, ou psiquiatras. Eles podem ajudar-nos. Mas somos nós que temos que nos erguer.
Deixe então o Ricardo Reis, e seja você mesma, com todas as suas emoções. Afinal ele vivia dentro de Fernando Pessoa, e parece que não conseguiu fazer o seu "senhorio" feliz.
Adorei o poema. Confesso que não conhecia. Mas se fosse seguido à letra, os casamentos seriam muito mais doradoiros e felizes.
Um abraço

milhafre disse...

se não fosse teu dizia que este blog é....
terno
doce
verdadeiro
magnifico
especial
deslumbrante
suave
intenso
vivo
fragil
sensivel
puro
humano
profundo

assim digo apenas que o blog é teu...
porque tu és tudo isto...
porque tu es tanto.
ler-te aqui deu-me saudades das cartas em papel, das feztinhas feitas letra a letra...
não resisti e imprimi o que escreves-te...
assim posso levar-te no bolso juntinho ao coração...

tu es muito especial
adoro seguir todos os teus passos a luz profunda dos teus olhos...

quero ver-te feliz por isso sorri :-)

To e Li disse...

Cheguei aqui e que vi?
Vi uma menina que começou o seu mês de Setembro muito cinzenta... Agora... COLORIDA... que bom!!!
Gosto de te ver assim, cheia de vontade para seguir em frente!
Não te preocupes com a gravidade, tanto tempo que ainda tens pela frente( fala a cota) a idade também nos traz coisas boas...
Desejo que continues com essa boa forma de estar na vida.
Beijinhos
Linda

P.S. Avisa quando andares a conduzir... não vou a Leiria nesse dia ( LOL)

sofia disse...

Sinto que foi muito bom este tempo que estive aqui,foi um prazer lêr as tuas palavras.

Continua com essa genica...Fica bem!

Sofia=

eco disse...

Deixa-me contente assumires essa procura de rumo. Quer dizer que a luta contra a confusão deixou de ser motivação por si só.

Tal como me parece muito bem esse conceito do equilíbrio...

Moderação é sempre uma boa opção (ena, e rima!!!)

E acaba por dar um sabor especial aos momentos de necessário desequilíbrio, que as coisas não podem ser sempre frias e controladas... mas com moderação ;)

"a gente liberta-se dos interditos através das transgressões", certo?

Beijos e abraços...

SQMA disse...

Sinto que encontrás-te o caminho certo, continuarei aqui diáriamente e em primeira fila a assistir a esta deliciosa conquista. Parabéns Miuda!!!

Deixo-te um texto que li e amei, e queria partilhar contigo:

'Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.'


((Luis Fernando Veríssimo))

Um beijinho

Branca disse...

Olá Ana,

Ontem li o teu texto com muita atenção, mas como ele merecia um comentário à altura preferi deixar para depois, porque já estava a cair, depois de ter falado com a tua mãe, que também vinha de trabalhar como uma louca, eh!eh!eh!
Vidas de mulheres!Hoje estou igual,
não sei que me anda a acontecer: semana extenuante de trabalho concerteza.
No entanto sabes como tenho apreciado a tua escrita e o mais importante de tudo o que tirei do teu post foi que sinto que o sol entra de novo em ti e cada vez com mais força.
Mentém essa luz querida e segue em frente, tu és capaz, tu própria reconheces que estás a ganhar 3-0 e isso é já uma derrota estrondosa para os demónios.
Fico feliz por te ver tão positiva, com tantos projectos!
És linda, inteligente e continuo a repetir que MERECES.
Desculpa-me por hoje, mas vou mesmo nanar.
Beijinhos
Branca

Lisa disse...

Ana,

Sinto-te cada vez mais DOCE, menos AMARGA.

Ainda bem que passas-te uma rasteira à tua "outra", à desalmada. Irás passar tantas, tantas, que ela, não se vai conseguir levantar tão cedo.
Quando menos pensares, já terás o teu braço no ar, por teres vencido o combate. Força miúda.

Sei o que sentes, quando nos falas de "conseguir respirar". Tive asma até há bem pouco tempo. É das piores sensações que já experimentei.

Quero continuar a visitar-te e sentir o teu alto astral, como dizem os brasileiros.

Que o sol continue a aquecer o teu coração doce.

Beijinhos

Lisa

Teresa disse...

Ana, deixo-te, apenas, um abraço especial.

(Estou atrasada na minha "missiva" eu sei. Mas também eu tenho tido as minhas agruras nos últimos dias. O tempo voou-me e eu sem dar por isso. seguirá, com todo o afecto, ainda este fim-de-semana.)

Beijo imenso, Ana.

Branca disse...

Ana,

Passo para te desejar o melhor do mundo.
Espero que estejas a ter um óptimo fim de semana.

Beijo enorme para ti.
Tia Branca

paula machado disse...

olá Ana

fico feliz por te encontrar bem
que tenhas um Bom domingo e muito colorido e que alegre o teu coração

beijinhos do tamanho do Mundo

To e Li disse...

Olá Ana!!!

Bom dia minha linda!
Bom domingo e que o sol brilhe no teu coração.

Ontem fui ver o Mamma Mia, sabes que me lembrei imenso de ti e da tua Mimi, vinha cheia de vontade de cantar e dançar, adorei...

Beijinhos coloridos
Linda

Albertina disse...

Minha Doce Ana
Prometi que comentaria este post e sinto que este é o momento certo para o fazer.
Sei que hoje não o terias escrito, porque hoje não te sentiste tão "vencedora"... por isso considero fundamental que releias o que escreveste aqui e acredites em ti própria...

- O tempo - lembras-te de uma peça em que eu dizia um longo texto sobre o tempo? Começava assim: "o tempo é um novelo lento, que desenrola tão lentamente, como lentamente foi enrolado, embaraço aqui, nó cego acolá..."´. É isso, minha Doce Ana, o nosso tempo fazêmo-lo nós. O teu (pouco) tempo agora é a compensação do muito tempo que foste perdendo pelo teu caminho... Explico melhor, com uma frase que li algures: podemos escolher o que plantamos, mas somos obrigados a colher o que nascer dessa sementeira...
Mas vais ver, filha, quando este "tempo" passar, ficas com imenso tempo para descobrir que afinal o Amor não morreu, que as tuas maminhas ainda hão-de sofrer mais alterações (o que elas crescem quando engravidamos!), que há mais marinheiros que marés (porque não havemos de ver a vida ao contrário?), que nem todos os casamentos seguem os conselhos do Mestre de Gibran...
... mas, acima de tudo, hás-de procurar a "outra" na torre onde pensas que está... e já não a encontras... já não está em coma... definhou, morreu e desfez-se em pó.

Espero que o próximo post nos diga que continuas a ganhar... e conta lá o primeiro beijo!

Beijinhos de quem te ama muito

Elvira Carvalho disse...

E então princesa, estamos hibernando? Ainda não é tempo, ainda há sol e muitos frutos para colher. Não tenho aqui vindo muitas vezes, mas vim algumas apesar de sair sem deixar rasto.
Mas você sabe que me lembro de si todos os dias. Mas nem sempre sabemos dizer aquilo que queríamos. E então prefiro ficar em silêncio. Mas... já reparou que na vida há sempre um mas? É verdade, só que cointrariamente ao que todos tememos nem sempre o mas é para nos atrapalhar. Então hoje apeteceu-me meter-me consigo. Acordá-la. E decidi fazê-lo pela voz de Flora Figueiredo.

Lição de casa


Você tampa a panela,
dobra o avental,
deixa a lágrima secar no arame do varal.
Fecha a agenda,
adia o problema,
atrasa a encomenda,
guarda insucessos no fundo da gaveta.
A idéia é tirar a tarja preta
e pôr o dedo onde se tem medo.
Você vai perceber
que a gente é que faz o monstro crescer.
Em seguida superar o obstáculo,
pois pode-se estar perdendo
um espetáculo acontecendo do outro lado.
Atravessar o escuro
até conseguir tatear o muro,
que é o limite da claridade.
Se tiver capacidade para conquistá-la,
tente retê-la o mais que puder.
Há que ter habilidade, sem esquecer
que a luz é mulher.
Do inferno assim desmascarado,
é hora de voltar.
Não importa se é caminho complicado,
se a curva é reta,
ou se a reta entorta.
Você buscou seu brilho, voltou completa;
jogou a tranca fora, abriu a porta.

Então vamos a isso. Por muito complicado que lhe pareça o caminho, você é jovem, tem capacidade de o percorrer.
Um abraço

Elvira Carvalho disse...

queria dizer contrariamente, e não aquela coisa que saíu.
Um abraço