(Re)Comecei no dia 1 de Setembro uma nova etapa. É estranho ser em Setembro. Setembro sempre me deu a ideia de fim! Em Setembro sempre deprimi. Sempre chorei. Sempre fechei.
Um amigo deu-me um livro: "O tecido do Outono", do Alçada Baptista. Passei-lhe os olhos. Comecei a ler. Meteu-me medo. Deu-me coragem. Fez-me pensar que talvez também a mim me mudasse o rumo. Acredito que sim. Por isso mete medo! Já o pousei de novo. Quero pegá-lo no seu todo! Aliás, quero pegar a minha vida toda no seu todo! Como sempre... Mas desta vez com jeitinho. Passar por cada página com olhos de ver. Com o coração todo ali!
É quase Outono. Não fiz praia pela primeira vez. Não se notam em mim nenhuns rastos de sol. Mesmo! A minha pele está pálida. Eu estou pálida. Lívida. De medo. De raiva. De dor. De nôjo!!!
Mas é engraçado. Cá no fundo, mesmo lá naquele cantinho do fundo, sinto um certo calor. Como se fosse um Sol pequenino a surgir. Tímido. Muito tímido! Parece-me segredar baixinho que é o meu Sol de Setembro. O meu Sol de Outono. É mesmo engraçado! O Setembro, o Outono, o Sol, um (re)começo. Como se isso me passasse alguma vez pela cabeça! Começar em Setembro. Eu, que nasci em Março! Mas é possivel que sim. Pode ser que sim.
Decidi começar então! Um passo de cada vez... mas já com tantos planos: um corte novo de cabelo, a carta de condução tirada, a pena cumprida, a Ana assumida, um Blog... o meu primeiro Blog! Eu, que nunca achei piléria a esta coisa. Exposição narcisística! Virtual em deterimento de real! Mas rendo-me! Vou ter de me render a tantas coisas...
Cheguei aqui sem roupa no corpo. Assim se me vos apresento. E assim vos dou Edgar Morin:
"A ideia que se possa definir homo, dando-lhe a qualidade de sapiens, isto é, de um ser razoável e sábio, é uma ideia pouco razoável e pouco sábia. Homo é também demens: manifesta uma afectividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na virtude de sacrifícios sangrentos; dá corpo, existência, poder a mitos e deuses da sua imaginação. Há no ser humano um salão permanente de Ubris, a desmesura dos Gregos.
A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas sem as desordens da afectividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, poesia.
Do mesmo modo, o ser humano é um animal não só insuficiente em razão mas também dotado de sem-razão.
Todavia, temos necessidade de controlar homo demens para exercer um pensamento racional, argumentado, crítico, complexo. Temos necessidade de inibir, em nós, o que demens tem de mortífero, mesquinho, imbecil. Temos necessidade de sabedoria, que nos pede prudência, temperança, cortesia, desprendimento.
(...)
Prudência, sim, mas não será esterilizar as nossas vidas ao evitar o risco a todo o preço? Temperança, sim, mas será necessário evitar a experiência da «consumação» e do êxtase? Desprendimento, sim, mas será necessário renunciar aos laços da amizade e do amor?
O mundo em que vivemos é, talvez, um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, aos nossos sentidos e ao nosso entendimento. Mas o nosso mundo da separação, da dispersão, da finitude, é também o da atracção, do encontro, da exaltação. Estamos completamente imersos neste mundo que é o dos nossos sofrimentos, das nossas felicidades e dos nossos amores. Não sentir é evitar o sofrimento mas também o regozijo. Quanto mais aptos estamos para a felicidade mais aptos estamos para a infelicidade. O Tao-tö-Kung diz precisamente: «a infelicidade caminha de braço dado com a felicidade, a felicidade deita-se aos pés da infelicidade.»O nosso presente está em busca de sentido. Mas o sentido não é originário, não vem do exterior dos nossos seres. Emerge da participação, da fraternização, do amor. O sentido do amor e o sentido da poesia é o sentido da qualidade suprema da vida. Amor e poesia, quando concebidos como fins e meios do viver, dão plenitude de sentido ao «viver para viver».
A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas sem as desordens da afectividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do impossível, não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, poesia.
Do mesmo modo, o ser humano é um animal não só insuficiente em razão mas também dotado de sem-razão.
Todavia, temos necessidade de controlar homo demens para exercer um pensamento racional, argumentado, crítico, complexo. Temos necessidade de inibir, em nós, o que demens tem de mortífero, mesquinho, imbecil. Temos necessidade de sabedoria, que nos pede prudência, temperança, cortesia, desprendimento.
(...)
Prudência, sim, mas não será esterilizar as nossas vidas ao evitar o risco a todo o preço? Temperança, sim, mas será necessário evitar a experiência da «consumação» e do êxtase? Desprendimento, sim, mas será necessário renunciar aos laços da amizade e do amor?
O mundo em que vivemos é, talvez, um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, aos nossos sentidos e ao nosso entendimento. Mas o nosso mundo da separação, da dispersão, da finitude, é também o da atracção, do encontro, da exaltação. Estamos completamente imersos neste mundo que é o dos nossos sofrimentos, das nossas felicidades e dos nossos amores. Não sentir é evitar o sofrimento mas também o regozijo. Quanto mais aptos estamos para a felicidade mais aptos estamos para a infelicidade. O Tao-tö-Kung diz precisamente: «a infelicidade caminha de braço dado com a felicidade, a felicidade deita-se aos pés da infelicidade.»O nosso presente está em busca de sentido. Mas o sentido não é originário, não vem do exterior dos nossos seres. Emerge da participação, da fraternização, do amor. O sentido do amor e o sentido da poesia é o sentido da qualidade suprema da vida. Amor e poesia, quando concebidos como fins e meios do viver, dão plenitude de sentido ao «viver para viver».
(...)
Portanto, podemos assumir, mas com plena consciência, o destino antropológico do homo sapiens-demens, isto é, jamais cessar em nós o diálogo entre sabedoria e loucura, ousadia e prudência, economia e despesa, temperança e «consumação», desapego e apego.
É aceitar a tensão dialógica, que mantém em permanência a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade."
Portanto, podemos assumir, mas com plena consciência, o destino antropológico do homo sapiens-demens, isto é, jamais cessar em nós o diálogo entre sabedoria e loucura, ousadia e prudência, economia e despesa, temperança e «consumação», desapego e apego.
É aceitar a tensão dialógica, que mantém em permanência a complementaridade e o antagonismo entre amor-poesia e sabedoria-racionalidade."
(in Morin, Edgar; Amor, poesia, sabedoria; Lisboa : Instituto Piaget, D.L. 1999, p.9-13)
8 comentários:
Meu amor
Quando nasceste (em Março) senti que, finalmente, fazia sentido a minha vida! Que tinha, finalmente, criado algo. Que ías ser uma pessoa muito melhor do que eu e que irias fazer de mim uma mulher especial.
A vida prega-nos partidas, as encruzilhadas confundem-nos as rotas correctas a seguir e, tanto tu como eu falhámos alguns dos caminhos certos.
Se Setembro é para nascer outra vez, então que seja para as duas um renascimento...
Podes crer que nada abala o amor de uma mãe (embora as desilusões deixem um certo amargor), por isso sabes que podes sempre contar comigo para te ajudar a escolher o caminho nas tuas próximas encruzilhadas...
Beijos grandes e gosta de ti como eu gosto!
Mimi
Ana,
Não me conheces.
Não sei se a tua mãe, algumas vez te falou de mim.
Hoje venho cá dizer-te que és uma menina cheia de coragem.
Sabes o que acontece aos corajosos?
VENCEM!!!
Tu sabes que é possível!!!
O querer é poder!
Vai, devagarinho, pode ser. Mas luta.
Acompanhei uma pessoa muito especial para mim, numa luta como a tua. É um ser espectacular.
Hoje está muito bem. Já lá vão 12 anos.
Se quiseres falar comigo no msn: Elisabete_02-12@hotmail.com
Já é tarde.
Agora despeço-me, com a certeza que vais agarrar a vida.
Amanha volto
Dorme bem
Lisa
Olá Ana,
Cheguei aqui tarde, li todo os cantinhos do teu espaço, lembrei-me da tua ternura quando comentaste o poema da tua avó no meu sítio e venho encontrar aqui não só a mesma ternura, como uma jovem inteligente e sábia. Dizem-no o teu perfil, o teu texto e tudo o resto.
Começar em Setembro é bom, por acaso até é um mês que eu gosto, em Setembro comecei muitas coisas na minha vida, todas as estações são bonitas pelas cores diferentes e tal como diz este texto no seu final é no equilíbrio entre o homo sapiens-demens que vais encontrar o sabor fantástico da vida que és capaz de agarrar com força. Tu tens a sabedoria necessária e todos os ingredientes para vencer e vais vencer, podes estar certa disso.
Engraçado que tenho uma filha também peixes e embora não ligue muito a isso dos signos, encontrei no teu pefil algo de comum com ela, também ela via até à exaustão a Bela Adormecida, primeiro alugava e depois ofereceram-lhe o vídeo no Natal e passou volta e meia a vê-lo sempre que lhe apetecia. Vezes sem conta lhe dizia "Nunca te cansas desse filme!"
Interessante, qual será a explicação? Mas, eu sou das que acho que nem tudo tem que ter explicação, desde que nos faça bem.
Deixo-te um abraço muito terno cheio de força e mil beijinhos.
Branca
Olá Ana,
Sei que não me conheces, mas cheguei até aqui pela mão de alguém muito especial, a da tua mãe.
O que nos escreves é muito profundo e digno de alguém sabedor da verdade, sinto que finalmente encontras-te o caminho certo, agora que o encontras-te mune-te de forças e coragem porque estes primeiros passos não serão fáceis e não vás sozinha leva aqueles que te amam e percorre-o sem medo.
Não olhes para trás, não te culpes nem culpes ninguém, agarra a vida e segue em frente.
Recomeçar a viver, já é o primeiro sinal de vitória, porque para se Recomeçar é necessário primeiro Parar.
Acredita em ti e vencerás esta luta.
Eu sou a Dani, sou mãe de uma Ana também, tenho 32 anos (ok…sou loira!!!), mas se te apetecer falar comigo, seja do que for, deixo-te o meu email e endereço do MSN, porque não tenho blogue. (daniela_9598@hotmail.com)
Um beijinho e agarra a vida.
Dani
Ana,
também não me conheces mas costumo falar com a tua mãe.
És muito corajosa e uma lutadora por isso vais vencer.
Nunca deixes de lutar e de acreditar.
Tens tudo a teu favor: és nova, tens uma excelente família, amigas virtuais não te vão faltar por isso não desistas. Nós fazemos uma corrente por ti e tu lutas com todas as tuas forças.
Eu estou contigo e caminharei a teu lado.
Um beijo muito grande de alguém que acredita em ti
Marina
Ana
Sou a Linda uma amiga recente da da tua Mimi.
Cheguei aqui através dela, li o que escreveste e gostei, mostra que és uma menina muito inteligente, por isso vai em frente,contorna todos os obstáculos que surgem na tua vida.
Começar, pode ser em Setembro ou outro mês qualquer, o importante é que decidiste recomeçar!
Tens uma Mãe que te adora e duas manas que te amam, agarra-te a elas que são o teu grande pilar.
Conta comigo, se precisares eu estou aqui para te ouvir.
Muitos beijinhos
Linda
Olá Mãe! Mãe com M de gente! Mãe doce! Mãe coragem! Minha Mãe! Tão bom!
Olá Lisa! Olá Brancamar! Olá Dani! Olá Carecaloira! Olá Linda! Olá!
Sim, a minha mãe já me tinha falado de voçês, das vossas festas, das vossas lutas, de como a fazem sorrir ao fim de um dia de agruras muitas! Obrigada por isso! E obrigada também por me terem vindo dar estas palavras de força!
É importante acreditar que ainda há quem acredite em mim!
será um recomeço para todos... recomeçaremos todos...
porque tu e a tua mãe são duas pessoas especiais, porque não houve erros mas caminhos cruzados, porque o céu esse é azul e brilhja sempre no teu sorriso..
porque juntos vamos ser fortes.
vamos trilhar todos os caminhos juntos
conta comigo, contem comigo
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